Amor futuro, não tem futuro

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Por Luiz Schettini Filho

O amor não se desvanece. O amor nunca cessa. O amor nunca morre, porque sempre se manifesta no presente. O grande empenho da pessoa humana é perceber-se no presente para ter oportunidade de viver o futuro, que se torna, invariavelmente, em presente. Ou amamos agora, ou não amamos de fato. Para que servirá o amor se não for uma manifestação da atualidade?

Amar será sempre um ato de coragem, porque só amaremos, verdadeiramente, no presente, quando não fugimos das circunstâncias, mesmo adversas, da atualidade. O amor não leva em conta as adversidades e nem mesmo a rejeição que, às vezes, nos atinge. O amor dedicado ao outro não implica ser acatado e aceito para poder existir ou subsistir.

Essas circunstâncias não podem ser analisadas do ponto de vista lógico, pois o amor está inserido em um contexto psico-lógico próprio. A lógica não explica o amor, até porque ele não precisa de explicação. Ama-se, porque se ama.

É preciso, no entanto, encararmos o amor como uma conjunção de fenômenos de nossa personalidade, que não nos permite dissecá-lo racionalmente, nem mesmo padronizá-lo, como se pode fazer com determinados comportamentos elementares. Além de tudo, o amor é sempre pessoal, principalmente na sua manifestação. Amar será sempre uma ação resultante de uma história pessoal. Amar é a expressão da vida de uma pessoa, com seus feitos e defeitos, sejam eles bem-feitos ou mal-feitos. Essa é a riqueza do amor. Certamente, não haverá dois amores iguais.

Toda ênfase que pudermos dar à ação de amar não a desvinculará de sua manifestação, no presente. A insistência nesse tema decorre da observação de que há um sem número de pessoas, ao longo da vida, tentando viver um amor apenas projetado no futuro. Na prática, amar não se conjuga no futuro, porque é uma ação do presente.

A tentativa de viver o amor em função do que ainda irá acontecer é, certamente, uma decorrência do medo de entregar-se ao mesmo amor, porque isso implicaria uma abertura ao outro – e isso é verdade -, gerando um sentimento de vulnerabilidade. Amar, no presente, é abrir-se ao outro confiadamente; é lançar-se, como faz o trapezista que, saindo da sua estabilidade, busca nos braços do seu companheiro um novo lugar de segurança. Nessa trajetória, haverá um momento em que não estará no seu porto-seguro e nem terá chegado à segurança dos braços do outro. Isso exige confiança, entrega e esperança. Assim é o amor.

Sem dúvida, só o amor produz as condições para abrirmos nossa alma à alma do outro. “A menor distância entre dois pontos é a intenção”. Amar com a intenção de amar, é amar sem fazer do amor um objeto de negociação. É isso que nos permite suportar a incompreensão, as interpretações inadequadas ou as reações injustas”.

Tudo o que ocorre no âmbito do amor, acontece na atualidade e não no amanhã dos nossos dias. Essa é uma das razões por que nada destrói o amor; nem mesmo o abandono de quem nos ama. Isso explica, em parte, o desejo de muitos filhos adotivos de encontrar sua mãe de origem. Sentem, provavelmente, a dor do abandono, mas uma dor que se confunde com o amor, que a razão não explica.

Perdemos tempo buscando o amor – ele está dentro de nós. Ao invés de procurá-lo, ofereçamo-lo aos que estão ao nosso redor, porque, dessa forma, estaremos dando livre curso a um potencial inesgotável. O amor está em nós sem que o tenhamos criado. A inconsciência desse fato nos deixa em um vazio difícil de suportar. As pessoas podem preencher em nós algumas necessidades importantes, mas não o vazio da nossa vida. E o homem vazio é como descreveu Elliot: “Um feitio sem forma, uma sombra sem cor, força paralisada, gesto sem movimento”.

Ninguém será tão pouco humano, que não tenha um mínimo de amor para viver e ajudar a viver. O comportamento humano se deteriora, quando não se desenvolve a partir de uma relação de amor. Uma criança tratada amorosamente terá a oportunidade de resistir com mais bravura ao abandono que a sociedade lhe impõe, a começar pelo descaso dos adultos diante de seus sofrimentos. Os medos, as angústias e a solidão que as crianças, muitas vezes, vivem nos momentos críticos de seu desenvolvimento, podem se agigantar e tornarem-se obstáculos aterradores. Não podemos interpretar as dores infantis, utilizando os mesmos parâmetros que usamos para entender as dores dos adultos.

Deepak Chopra faz uma observação pertinente, quando diz: “A pior impressão que você pode ter da infância é a de que seus modelos para o amor também foram modelos de traição. Isso acontece em casos de abuso – físico, sexual ou emocional. Com qualquer tipo de abuso em seu passado, você vai considerar todo(a) amante como um inimigo ou inimiga. A carícia mais gentil contém a possibilidade do ataque; a ternura mais suave reverbera com o potencial da degradação”.

Quando negamos amor, apontamos o caminho da doença. Podemos até ser justos sem amar, mas não podemos amar sem ser justos. Quem deixa o amor para amanhã, vive o desamor no dia de hoje.

Não aprendemos a amar através de instruções, mas sim na medida que somos amados pelas pessoas com quem convivemos. É por isso que o amor está indissoluvelmente ligado ao presente e não ao futuro.

Fonte: www.luizschettini.psc.br Via: Compromisso Precioso

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